Nova série
ano II
Março 2011
ISSN 2177-2673

Número
4

Editorial

 

Três questões cruciais abrem este número: a entrada na Escola, o gnômon do psicanalista e a prática clínica.

 

A primeira está na pergunta de J.A. Miller sobre a possibilidade de escolha entre dois modos de entrada na EEP – através do trabalho pela causa analítica ou do trabalho como analisante. A partir da proposição de Lacan do falo como o gnômon da eficácia do sujeito, L. Gorostiza desenvolve a segunda se perguntando se seria possível encontrar o gnômon do psicanalista. Já M-H. Brousse aborda a prática clínica tendo como questão o que é ouvido e feito, pelo psicanalista, com os cacos do cotidiano presentes na fala sob transferência.

 

Em dois outros artigos, os discursos científico e capitalista são questionados: Paradoxos da saúde mental discute a propriedade da aplicação do modelo médico à psicanálise por ter como objeto o sujeito do inconsciente. Na mesma linha, Fratura íntima aponta que esses discursos, dirigidos a uma suposta completude possível, só fazem acentuar a castração, fratura íntima comum a todos nós.

 

A insistente negação das interpretações do analista e sua posterior aceitação em ato em um caso de neurose obsessiva, assim como o manejo da transferência pelo analista animam uma interessante discussão da prática clínica.

 

A demanda de amor desmedida e o arrebatamento, experiência de gozo que Lacan considera presente nos místicos, poetas e mulheres percorre as linhas das Cartas Portuguesas, que a autora utiliza para pensar a relação da escrita com o amor. Também em torno da questão do amor, o filme Cisne Negro, atualmente em cartaz, instiga o artigo que gira em torno dos impasses da relação mãe e filha e de suas consequências devastadoras para a sexualidade feminina.

 

Finalmente, a articulação entre psicanálise e arte está bem representada neste número. Assim como a psicanálise está voltada para o real, a obra de arte é uma forma única, expressão do real comum a todos. As produções de Duchamp e de Bispo, consideradas “arte de vanguarda”, nos mostram a arte como uma das possibilidades de expressão da loucura de cada um, independente de sua estrutura.

 

Esperamos proporcionar com esses artigos uma leitura enriquecedora e agradável.

 

Inês Autran Dourado Barbosa