V Congresso da Escola Brasileira de Psicanálise – EBP

“A ação lacaniana na civilização do objeto a”.
Sérgio Laia – Presidente da EBP

O V Congresso da EBP acontecerá em Ouro Preto, nos dias 29, 30 de abril e no dia 1o. de maio de 2005, no Hotel Solar Nossa Senhora do Rosário, Minas Gerais. Como ficou decidido na última Assembléia dos Membros da EBP, teremos um Congresso com um maior tempo para apresentação e discussão de textos e temas fundamentais ao aprimoramento, no Brasil, de uma comunidade analítica de trabalho pautada pela orientação  lacaniana.

Em sua recente intervenção no IV Congresso da Associação Mundial de Psicanálise (AMP), Jacques-Alain Miller destacou a convergência, em nossos dias, entre o discurso da civilização e o discurso analítico, a partir da ascensão, no zênite social, do que Lacan chamou de objeto a. Nesse mesmo evento, a Delegada Geral da AMP, Graciela Brodsky, propondo-nos uma inflexão no modo como temos pensado, sublinhou a importância de explicitarmos como a psicanálise aplicada à terapêutica pode nos dar a verdade da psicanálise pura que, por sua vez, se evidencia particularmente pelo passe, por essa verificação de que um analista é o produto de uma análise. Éric Laurent, comentando testemunhos de colegas que foram nomeados Analistas da Escola (A.E.), enfatizou o quanto as Escolas da AMP devem se encarregar de trabalhar e fazer valer, inclusive para além delas mesmas, uma retradução, uma reescritura dessa articulação que cada A.E. realiza entre a linguagem pública das significações recebidas e a linguagem privada de um gozo que já não é mais ignorado por um sujeito. Por fim, Antonio Ciaccia, no fechamento do IV Congresso da AMP, anunciou-nos o título do próximo, agendado para Roma, em 2006: “O Nome-do-pai - prescindir, servir-se dele”.

Há, portanto, todo um programa de trabalho endereçado aos Membros da AMP, e o V Congresso da EBP apresenta-se como uma ocasião para desdobrá-lo e poderá se constituir como uma espécie de ateliê, de oficina de trabalho em que os Membros da EBP vão apresentar e discutir, sobretudo ao longo dos dois primeiros dias desse evento, qual deve ser a ação lacaniana na civilização do objeto a, especialmente no que concerne a três vertentes:

I – O Nome-do-Pai: como tematizar tal referência em um mundo que parece não ter mais referências? É importante que ainda a consideremos quando nossa clínica é continuamente mobilizada por aqueles que parecem não se dispor mais a saber ou contar com o que visava temperar o gozo para torná-lo menos invasivo e avassalador?

II – O que a psicanálise aplicada ensina à psicanálise pura? Diante do pragmatismo próprio à civilização do objeto a, a psicanálise aplicada à terapêutica se impõe como um importante recurso do psicanalista. Afinal, tal aplicação é capaz de demonstrar como a psicanálise é uma prática que pode ser usada para tratar – e de modo eficaz - os sintomas que afetam os corpos. Sem dúvida, como já o afirmamos com mais freqüência, a psicanálise é melhor aplicada quanto maior for sua articulação com a psicanálise pura, quanto mais o analista praticante evidenciar sua relação com a análise que produz um analista. Para a Conversação a ser realizada no V Congresso da EBP, convidamos os Membros dessa Escola a apresentarem relatos clínicos em que se possa elucidar o que a psicanálise aplicada ensina à psicanálise pura. Em outros termos, a partir de casos clínicos, os Membros da EBP estão convidados a tematizar as seguintes questões: os usos aos quais o analista deve consentir na aplicação da psicanálise à terapêutica estariam próximos ao desêtre e à posição desidentificada a que um analista acede no final de uma análise? Quais os destinos dados à prática da psicanálise por aqueles que já passaram pela experiência de Analistas da Escola? O resto inassimilável que se impõe em alguns sintomas com os quais os analistas se deparam em suas práticas apresenta algum tipo de articulação com a identificação ao sintoma franqueada pela psicanálise pura? Em que o real impossível de suportar testemunhado na prática do analista implica o real em jogo na psicanálise pura?

III –  Doutrina do Passe: dispositivo privilegiado da demonstração dos efeitos de uma psicanálise pura quanto à produção de um analista, é importante evidenciar se o passe é capaz de fazer frente às exigências do imperativo contemporâneo de avaliação contínua e objetiva dos serviços e das práticas. Trata-se ainda de evidenciar como, a partir da formalização de uma doutrina do passe, os testemunhos dos A.E., bem como os relatórios produzidos por Cartéis e Colégios do Passe articulam linguagem pública e linguagem privada de um modo que, particular a psicanálise, deve ser retraduzido pelas Escolas. Com tal retradução, a ação lacaniana poderá efetivamente incidir sobre os impasses que a civilização do objeto a enfrenta no que concerne às querelas entre o público e o privado, o coletivo e o íntimo.

Por fim, no dia 1o de maio de 2005, haverá a Assembléia Ordinária de Membros da EBP em que, além das passagens da Presidência e da Diretoria atuais para as próximas, teremos ainda oportunidade de apreciar outros assuntos de interesse de nossa Escola e mesmo de retomar as discussões mantidas durante os dois primeiros dias do V Congresso da EBP.

Lançados o título, as vertentes de trabalho e, entre estas últimas, particularmente a temática da Conversação, o V Congresso da EBP aguarda, agora, a produção de cada Membro da Escola para que, ao longo dos próximos meses, ele possa ser preparado de modo a vir a se efetivar em Ouro Preto, esta cidade que, na escopia própria ao barroco, corporifica o objeto a através de um estilo diferente daquele da civilização em que a ação lacaniana contemporaneamente se inscreve, mas para o qual Lacan não deixou de atrair nossa atenção.